Só a consciência pode nos libertar do medo. No entanto, ao contrário do que muita gente imagina, o lado bom do medo não existe.
Muitos acreditam que, sem medo, poderíamos colocar nossa vida e a de terceiros em risco. Porém, não é o medo que nos protege, mas sim a precaução. Não é o medroso que salva vidas, mas aquele que tem atitudes proativas e busca meios de evitar os perigos ou, ao menos, minimizar seus efeitos.
A palavra medo vem do latim metus, que significa temor, apreensão, desespero e insegurança em relação a um problema atual ou futuro. No entanto, ele é uma ilusão que parece real para quem não para para analisar racionalmente a situação.
Isso ocorre porque o medo é uma criação mental, uma possibilidade de um vir a ser. O único medo real é aquele produzido por um perigo iminente, ou seja, um fato que acontece exatamente no momento presente, como um assalto ou um acidente.
Nessas situações, o instinto de preservação é acionado, provocando uma modificação instantânea na produção de determinados hormônios. Como consequência, há aceleração dos batimentos cardíacos e alteração da respiração. Tudo isso ocorre para que possamos enfrentar a situação, seja lutando ou fugindo.
O mais importante é compreender que, para a mente, não existe diferença entre o que é real e o que é imaginário. Assim que pensamos em um fato ou possibilidade, uma parte do cérebro, conhecida como sistema límbico, é ativada. Esse sistema produz emoções ou sentimentos que confirmam e fortalecem aquele pensamento. Imediatamente, os sistemas corporais passam a atuar de acordo com essas emoções e sentimentos dominantes.
O inverso também é verdadeiro. Como o sistema límbico faz parte do inconsciente, inicialmente não temos acesso ou controle sobre ele. Portanto, ele age de forma automática, sem que tenhamos dado nenhum comando consciente. Nesse caso, determinados pensamentos começam a surgir em nossa mente sem que percebamos.
Como o inconsciente não analisa e não tem capacidade de discernimento, cabe à razão administrar essa emoção por meio de escolhas conscientes. Isso significa que é possível mudar o foco, deliberadamente, de um pensamento negativo, estressante ou medroso para algo positivo e saudável.
Embora esse processo não seja fácil, ele é possível. Para isso, é fundamental ter conhecimento e exercitar a mente consciente para treinar a mente inconsciente. Afinal, apesar de não aprender por meio de raciocínio, o cérebro emocional pode – e deve – ser treinado.
O mais indicado é conhecer a raiz daquele medo, pois isso ajuda a dar um embasamento racional ao processo de treinamento. O ideal é buscar na memória o momento em que aquele medo surgiu e se ele foi fruto de um susto, acidente ou trauma. Nesses casos, podemos nos perguntar quantas vezes o susto, acidente ou trauma realmente aconteceram.
Se não descobrirmos suas raízes, provavelmente esse medo nem nos pertence. Ele pode ter sido herdado de nossos pais ou de pessoas significativas, em uma época em que ainda não tínhamos discernimento. Quando tomamos consciência disso, podemos enxergar esse medo como algo externo, tornando mais fácil descartá-lo.
Caso o medo tenha suas raízes em um susto, acidente ou trauma, é possível fazer uma nova pergunta racional: quais as probabilidades de isso acontecer novamente?
Provavelmente, nenhuma. Além disso, caso venha a acontecer no futuro, sofrer por antecipação não trará nenhuma vantagem. Essas perguntas nos fazem perceber que não há lógica em nos torturarmos mentalmente por algo que, provavelmente, jamais tornará a acontecer.
Outra reflexão importante é: em que esse medo tem nos ajudado?
Geralmente, a resposta é “em nada”. Então, se estamos sofrendo por nada, não seria mais interessante substituir essas possibilidades negativas por precauções reais? Ter atitudes proativas pode ser uma forma muito mais eficiente de evitar que o problema aconteça novamente.
Sempre temos escolhas. Podemos permanecer na zona de desconforto – afinal, viver com medo é extremamente desconfortável – ou podemos tomar consciência de que o medo é uma criação mental. A mente tenta prever uma possibilidade remota, mas nós podemos escolher mudar o foco dos nossos pensamentos e, assim, prevenir a repetição desse medo.
Administrar pensamentos e emoções requer foco e perseverança, mas o resultado sempre valerá a pena.
Pense nisso!
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